quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O nosso galo é fadista.

Que galo! Todo armado aos cucos.

Digam lá que a sua atitude não é de fadista.

Umas unhas bem compridas e sempre aguçadas.

Mas o seu melhor está na goela, pois então.

É fadista de alma e coração do mundo inteiro.

É um galo cantor de orgulho na raça lusitana.

Este aqui é apenas uma humilde representação.

Foi disputado pelo meu pai e pelo meu tio, irmão

numa feira de província, conta a minha mãe.

Desde muito menina que o conheço, tão assim

de louça pintado vermelho, amarelo e azulão.

Tinha lugar cativo no móvel da sala dos meus pais.

Por força das circunstâncias, passou às minhas mãos.

Na sala empoleirado na estante revestida de livros.

Canta todos os dias de madrugada e ainda pisca o olho.

É um bom malandro. É fadista. Até vos vou contar

um segredo: foi ele que me desafiou para o fado há anos.

Mas não o castiguem, coitado. Já nem se pode mexer.

Nem sei qual é a idade da sua graça. Pergunto à mãe.

Hoje que faria 96 anos o seu tutor, meu pai, marinheiro fadista.

Não pensem muito mal de mim, fadista de alma e coração.


Rosa Maria Duarte



Um galo que pode ser de Barcelos
Rosa Maria Duarte
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