sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

As cartas de amor são sempre ridículas

Todas as cartas hoje em dia

são gravemente ridículas
Sem postos de correio para as enviar.

Claro que quanto mais são de amor
mais especialmente doloridas
no seu esperar, inconsoláveis.

Não seriam cartas de amor se não fossem
ridiculamente ridículas nesse amor
inconformado e amorosamente impaciente.

Quem não gosta de escrever cartas de amor?
provavelmente dos mais lúcidos
escritas as suas tremidas cartas ridículas
num amor universal e estupefacto.

E agora sem as poder enviar como gostariam!

Quem é que não gosta de ler cartas de amor, 
estupidamente tontas, sem corretor sentimental?

Porque o que é bom é ser ridículo por amor
não de outra forma banalissimamente qualquer
sincero e leal na sua conhecida insensatez
estranhamente impensado e com tanto amor
para dar e construir, fortunadamente ridículo.

Amar quem ama de amor sentido e magoado
num mundo desamado, com malandrices,
de ridículo para ridículo, cheios de pena
uns e os outros por amar tanto e tão pouco
que acreditamos ser em fraternidade.

E tão sérias as tontas palavras de amor
mesmo de redundante amor como antigamente
ridiculamente sinceras vindas do coração humano
tão redondinhas e esdrúxulas no seu escrever!

Rosa Maria Duarte





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