sábado, 6 de janeiro de 2018

Ouço uma melodia ao longe...

A minha vizinhança gosta de música.
A par de pneus que rolam no asfalto, barulhentos e espaçados, há um fio ténue de música cantada que se ouve de um aparelho qualquer, acima do lugar onde me encontro a partilhar convosco estes bocadinhos de pensamentos descritos por estas palavras.
Lá, lá, lá, lá... Tenho que usar palavras. O que eu estava a pensar quando trauteava é que não podemos só viver dentro das nossas cabeças. Porque quem escreve, vive nesse mundo mental que se acarinha por sons de subtileza sensorial. Sons que são mais do que palavras que dão vida à nossa experiência intersubjetiva. São devaneios de imaginação que ajudam a viver o dia-a-dia.
E para isso é importante uma boa relação eu-eu. Sincera e audaz.
Não podemos pôr as mãos, a cada momento, nos bolsos dos outros. Há uma responsabilidade individual acrescida neste mundo-laboratório de nos (re)conhecermos, sem que a validação do outro seja determinante para a nossa verdade.
Temos que nos autoresponsabilizarmos pela (des)construção individual constante, cientes que é uma identidade que se autorrespeita porque sabe que é diferente e que aceita a diferença do outro.
E, no entanto, podemos ouvir a mesma música. Falar o mesmo idioma. Praticar o mesmo credo. E ser de clubes diferentes, cheios de tranquilidade.


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