terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Azedas com tão doce amarelo

Às vezes ficamos um pouco cinzentos. Reflexo de um céu nublado na nossa senhora alma.
Talvez também porque percebemos que há ciclicamente um alguém conhecido que resolve passar do aquém para o além. Grande parte das vezes, por vontade não própria, força de um tempo inflexivelmente renovador.
Aquele tempo que vai envelhecendo pessoas e folhas nas árvores, tornando-as quantas vezes vistosas numa paleta variada do vermelho ao amarelo. Muitas descem à terra e amantizam-se com ela. Perfumando-a. Alimentando-a. 
Outras, teimosas, agarram-se, firmes, aos ramos onde nasceram e quase nem mudam de cor. Escusam-se à morte e querem ver a vida do alto de um tronco que é o seu barco-berço ao vento.
Há um rosto de neblina, friagem, chuva miudinha, onde soltas gotículas fazem despontar uma colcha verde de trevos e demais ervas, a que se juntam umas florinhas amarelas a dançar, esbeltas, na aragem de um certo janeiro.
São belas pintas amarelas a sobressair no manto verde-chão dos pedaços de campo em constante avidez de água e de húmus.
São as azedas tão doces vestidas de um amarelo sol e limão que eu tão bem conheço dos meus tenros percursos de Alcântara à escola primária da Tapadinha.


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