CTT: Carta Tua Também
O mundo muda. E as gentes do mundo não ficam mudas perante a mudança.
Vamos conversá-la?
Sim, claro que queremos mudar o presente. E construí-lo sobre o melhor do passado.
O progresso manda e muda o mundo. Pode doer, mas faz falta. Decidido pela humanidade, com humanidade, já se vê!
O progresso manda e muda escolas, ruas, casas, hospitais, bancos, correios, jornais, televisões, gráficas, telefones...
Temos que perceber e agradecer a mudança, sem saudosismos de maior.
As mudanças querem-se feitas. Bem feitas!
Reunir para avaliar. E comunicar. E nos CTT como é que vai ser?
Lojas ou postos, privados ou não, cartas e/ou encomentas, ação e/ou reestruturação, ativos ou passivos, contratos (mal)tratados...?
Queremos (ainda) cartas, porque são precisas. Seladas. Pesadas. Validadas. Acarinhadas. Asseguradas. Minhas e tuas também. Enquanto houver canetas, claro...
Todos sabemos que uma mensagem tem sempre uma história de viagem.
O carteiro quantas colegas carteiras teve até hoje?
É o mundo que pula e avança. As palavras também pulam e esvoaçam para o mundo da virtualidade. Uma motoreta imparável de megabits.
Calha mesmo bem, porque não temos tempo. Andamos sempre a correr. À velocidade de um clique, por favor.
Agradecemos esta virtualidade eficiente. Uma caixa de correio feita de luz e intermitências. Sem grandes formalidades.
Mas...ainda te lembras da tua caligrafia? E do postal ilustrado? E a carta fechada e inviolada?
É mais seguro ir ao banco ou aceder ao banco?
Para que serve a nossa morada? Para o GPS e para as cartas de janela?
Não temos tempo para pensar, para escrever, para trocar ideias ou correspondência. O romantismo já era. Já só queremos ter tempo para acordar, trabalhar e pagar... Já não nos CTT?
Saiu-me uma boa encomenda! Envia-me uma Carta Tua Também, que gostaria de receber a horas. Vou lê-la nos transportes e marcar com ela o livro que comprei na tua loja. Também já não é possível?
Não te preocupes. Eu continuo a escrever para ti. Sempre mais uma carta. Com papel. Como no fado da carta. Basta uma folha para reconheceres o meu escrever.
Envio-te do mar. Das longas viagens. Em cada porto.
Assim é o esperar. Aprender a esperar. E saber que ninguém vai mandar um vírus a contaminar os beijinhos.
Mas...onde ficam os funcionários para cumprimentar? Tantos acionistas a pensar no que é melhor para a comunidade. A não querer mal aos diretores. Porque o melhor é não fechar o mundo aos mais pobres, aos mais velhos e aos mais desprotegidos.
Se calhar vou passar a mandar cartas para mim. Não? Quem é que já o fez?
Venham elas, as cartas e as encomendas nas rolotes. Também pode ser. Com uma fartura a acompanhar, se o selo não for muito caro.
E se é um serviço público, porque não distribur cartas de amor no dia de São Valentim? Sobretudo aos mais solitários. Nem que seja do Menino Jesus. Poupam-se muitas verbas no ministério da saúde e na assistência social.
Então não é preciso conhecer as gentes de todo o país?!
Pois então digam à gente coisas bonitas.
Do tipo: vamos aumentar a qualidade.
Somos viajantes vizinhos nesta viagem de papel e palavras, nas malas dos carteiros. Com muitas metáforas. Ou mesmo sem elas.
Uns carteiros amigos como o de Pablo Neruda.
Que toque sempre três vezes e, se possível, peça a nossa assinatura. Mesmo na máquina de decalque. Com o nosso obrigado.
Venha o progresso para aumentar a esperança de vida aos CTT. Com cartas tuas também, de preferência.
Rosa Maria Duarte
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