sábado, 3 de fevereiro de 2018

Queres pensar comigo V

- Acho que as pessoas já não falam tanto dos filhos como faziam dantes. Não te parece?

- É curioso esse teu pensamento. Nunca pensei nisso. Talvez tenhas razão. Primeiro porque ter filhos deixou de estar no topo das prioridades. Em certas sociedades desenvolvidas e mesmo nas mais conservadoras que só muito recentemente deram mais espaço de escolha às mulheres.

- Sim, como a nossa.

- Sim. Depois a mentalidade também foi mudando aos poucos. Ainda há pessoas que passam todo o tempo a falar dos filhos. Por um lado, é bom, porque revelam o seu foco de interesse nos filhos. Por outro, é a forma como se fala deles. Desabafar faz falta, claro. Mas dizer todas as boas notas da escola ou quanto recebem de ordenado, talvez nem por isso. Bem, hoje em dia, só se for para denunciar os trabalhos precários.

- Ou só ver os defeitos dos filhos...

- Ah, pois, isso ainda é pior.

- Mas eu acho importante os pais gostarem de falar dos filhos. Ainda que me pareça que são mais as mulheres que o fazem...

- Sim, sim. Eu concordo. É importante falar dos filhos. Saber falar dos filhos. Saber escolher com quem se fala dos filhos. Os filhos como um bem precioso que deve ser estimado e partilhado. E falar deles ao nível dos seus pares. Como seres humanos fruto da beleza da existência coletiva.

- É verdade. E não ter medo de os elogiar. Eu acho os meus excelentes seres humanos. Muitos generosos e afáveis. Muito sociáveis e cooperantes. Sofrem um pouco quando os outros se distanciam.

- E no seio familiar, quando defendem mais a mãe ou mais o pai em determinada circunstância, não significa que gostem mais de um do que de outro. Às vezes é complicado para eles participarem na relação conjugal dos pais. Mas eles também fazem parte do núcleo. Podem errar ou serem por outrém induzidos em erro. Não há famílias perfeitas. Há famílias que lutam pelo seu projeto conjunto e estão atentas; outras que se distraem e depois perdem (alguns) laços.

- E bom falar dos filhos. Eu acho que é bom ter filhos. Mais: é bom olharmos para todos os jovens como se fossem nossos filhos. Eu adoro os meus filhos. Tenho muitos projetos, mas eles são e serão o meu projeto nº 1. Sem facilitismos contraproducentes.

- Claro! Amá-los. Ensiná-los. E dar-lhes espaço para eles serem eles próprios. Para crescerem ao vosso lado e integrados na comunidade. Tenho de ir, amigo.






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