sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Queres pensar comigo VI

- Bom dia. O que achas do espírito carnavalesco?


- Olá bom dia. Como sabes, há pessoas que não ligam ao Carnaval. Outras que não gostam mesmo. Outras que adoram. Eu, pessoalmente, aprecio. Eu vejo-o como uma espécie de catarse popular.

- Brincavas ao Carnaval em miúdo?

- Sim. Nasci num meio popular. A criançada da escola e da rua adorava tudo o que era brincadeira de Carnaval. Para mim, era quase um prelúdio dos Santos Populares, com muita dança e animação. São distintos, claro. Mas caracterizam-se pela expansividade, pelas manifestações na rua, em coletivo, num espírito familiar e, no entanto, entre muitos anónimos. Por isso é uma catarse que confronta as regras de conduta instituídas que a nossa cultura conservadora tende a manter.

- Como aquela de não falar a desconhecidos.

- Por exemplo. O ser humano é um ser gregário e gosta de interagir. Mas é (muito) contido e controlado, por razões de boa conduta normativa. Na realidade, o ser humano precisa muito de conversar, rir, cantar, dançar, brincar...

- E a criatividade advém dessa sua capacidade de se libertar e daí inventar diferentes linguagens.

- Exatamente. Gerir as múltiplas competências humanas é o grande teste. Ser sóbrio e ao mesmo tempo divertido. Ser sensível e ao mesmo tempo sensato. Ser criativo e ao mesmo tempo integrado...

- E o Carnaval, com a sua história pagã, mas também de festival de cristianismo ocidental antes da Quaresma, é uma vivência fértil de imaginação crítica irreverente e popular. Quantas vezes brejeira e erótica!

- É verdade. Eu acho que é uma tradição a manter. Até logo, rapaz.


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