A tela é pequena e branca. Podia ser melhor, eu sei.
Vai no banco de trás, levantada, à espera de chegar.
Vai a baloiçar na mão de homem que se compassa bem.
Vai chegar a casa e esperar encostada a uma parede
tão branca como a sua roupa branca em plástico fino.
Ouve falar, comer, chamar, fungar, ressonar, retorquir...
Ouve portas a bater, folhas a virar, música a tocar
vozes a cantar, campainhas a chorar, águas a correr...
Vai parar ao cavalete, palco próprio salpicado de magia
tinta de óleo na calha onde é recebida. Calha na calha.
Vai ser despida e desenhada a carvão, ideias do pintor.
Vai descansar até outro dia enquanto o pintor a ponderar.
Sente pêlos vários refinados a acariciar a sua brandura.
Sente o cheiro da tinta na sua textura já menos branca.
Sente dançar em si um rosto de mulher algo sorridente
Sente colorir o seu fato branco de azul e cor de mel pele
Sente o sorriso do humano pintor nas iniciais que escreve.
Vê em si um novo ser, barriga de aluguer dum gesto d'amor
Vê em si muita poesia laços de alvor, simples dança de beija-flor.
Rosa Maria Duarte
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