- Essa pergunta é bonita, mas não tem uma resposta fácil, a rigor. Eu nem vou pelo conceito de felicidade. Assumimos que sabemos inequivocamente o seu significado. A questão é que somos seres pensantes. Temos consciência. E sabemos sentir. Compaixão, por exemplo. E isso já compromete o nosso bem-estar.
- Mas podemos sentir qualquer coisa que se pareça com felicidade quando ajudamos alguém?
- Pois...é possível experimentar um sentimento de felicidade por termos capacidade e oportunidade de ajudar os outros. Mas serão apenas momentos de felicidade que, julgo, coincidirão com estados de alívio e satisfação do outro.
- Há quem diga que é mais fácil ajudar desconhecidos do que amigos e familiares. É verdade?
- Essa é uma pergunta que deve ter mais do que uma resposta. A minha experiência diz-me que precisamos de nos sentir aptos a ajudar seja quem for. Claro que se for uma pessoa a quem nós nos sentimos emocionalmente ligados, maior é o impulso para ajudar. Porque é que é mais difícil ajudar os mais próximos, que às vezes é verdade. Pois, porque o dever e a responsabilidade são maiores e, por isso, os outros talvez, e digo talvez sublinhado, vejam mais facilmente o que não fizemos (ainda...) do que aquilo que já fizemos. O que é que te parece?
- Parece-me que tens alguma razão. Comigo acontece muito isso. O que eu faço nunca chega. O que eu faço nunca está como poderia estar. Que peço muito e dou pouco. Que ajudo mais os outros do que os meus. Que penso mais em mim do que nos outros. Que sou muito distraído. Ando sempre a pensar na morte da bezerra e podia fazer mais e melhor. Juro-te que gostava que todos fossem felizes, inclusive eu, claro.
- Nós somos, tendencialmente, melhores a falar do que a fazer. Somos imperfeitos, temos consciência dessa imperfeição, apontamos os defeitos uns aos outros, se for preciso castigamos, mas andamos sempre a falhar. E cada um tem o seu timing a reconhecer os próprios erros. E a ver os vários pontos de vista das razões dos erros que cometemos. Então culpamos a justiça das limitações humanas.
- É isso! Ninguém está acima da lei, mas as leis às vezes são trôpegas para tantos erros humanos.
- Pois é. Mas a felicidade conquista-se com pequenos avanços no sentido do Bem cujo ingrediente principal é o bem comum. Cada passinho humano é, talvez, um momento de felicidade ou, se quiseres, de satisfação.
- Então, é possível termos momentos de felicidade. Quanto mais conscientes mais felizes?
- Fernando Pessoa achava o contrário. Mas se calhar, no fundo, acreditava que um dia esse estado poderia inverter-se, naturalmente. Porquê? Porque o homem decide que quer ser, conscientemente, bom.
- Nasce bom e fica ainda melhor.
- Este teu pensamento encheu-me de felicidade. Obrigado amigo.
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