O vento soprava forte. A menina ouvia, distraída, as suas músicas preferidas. Tinha sido uma prenda da sua madrinha. Sonhava ser cantora. A caminho de casa, optou por aquele caminho sossegado e descampado. O seu vestidinho de chita, com estampagem multicolor, dançava naquele corpinho ajustado pela aragem fresca e luminosa. A moça esticou os braços, deliciada, a receber a aragem vigorosa e faladora.
A natureza zelava pela Sãozinha. Os zagalos, brincalhões ventos, sopravam mais forte a fazer da terra cor de sangue um baloiço e arrancaram os auscultadores dos cabelos lisos e pretos da menina. Quase voava, aquela linda e frágil criatura feminina. Mesmo sem a sua música, a moça continuou serena. Sentia-se inexplicavelmente amparada pelo olhar divino. Seria uma proteção intercedida?
O mar e a floresta continuavam agitados. As nuvens deixavam-se remoinhar. Mas disfarçavam para não assustar a menina.
Entretanto, o vento abrandou um pouco. Um instante para a menina perceber onde tinham caído os seus auscultadores. Não havia pressa. Afinal a natureza era uma sentida sinfonia. Até os uivos dos deuses meninos tão traquinas do ocidente.
Ia em direção da sua casa. Calhava bem. Chegaria mais depressa. Estava com um ratito no estomâgo. Pudera! Estava na hora do seu lanche.
Por momentos, Sãozinha teve uma visão: viu-se a mexer numa tela pintada a óleo onde as suas finas penas despidas se confundiam com a cor matizada do quadro. Ficou maravilhada! A experiência nesse instante refletia a arte da vida. E sentiu-se feliz.
Sãozinha Rosa Maria Duarte Óleo s/tela 55x64 |
- Obrigado, floresta.
Sãozinha já avistava a sua casa. Por isso agradecia àquele vigilante olhar que a seguia naquele caminho da escola até casa cheio de vigorosa natureza, bela e inquietante.
- Ó Sãozinha, não te esqueças dos teus phones.
Assustou-se, a menina. Ora, também não admira: ouvir uma voz, sentir um olhar, dançar com um par invisível... Vai ser bonita a vida, pensou a doce criatura.
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