terça-feira, 20 de março de 2018

Dás-me o braço, por favor?

Pedi-te o braço, mas claro que não vou ficar com ele.

Mal seria se eu colecionasse teus humanos membros 
ou se de bonecos ou bonecas neste longevo hospital
sempre curioso numa enfermaria de plástico cor de pele
borracha, metais, bebés de aspeto, peso, cor e tamanho 
humano a dormir ou falecidos nos braços do visitante.

Pedi-te o braço; foi para me fazeres companhia agora
até ao boulevard livre da baixa lisboeta oitocentista
revisitar os roteiros intelectuais dos teatros e cafés
ir à Havaneza, de sombrinha, corpete de cetim lilás
a fixar os tuk-tuk carregados de gente e tanto fado.

Pedi-te o braço; para vires comigo cruzar as ruas na rota
dos dois tempos: o da nossa capital romântica tão eciana
e o que a sustenta, um presente turista cruzeiros lisboeta. 

Devolvo-te toma o teu braço intemporal de intelectual poeta. 
Como é lindo esse vistoso fraque de camisa e laço amarelo.

Rosa Maria Duarte



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