sábado, 10 de março de 2018

- Há gente que deita tudo para o Facebook!

- Não achas? E depois queixam-se... Põem a sua vida escarrapachadinha no Facebook. O que comem, o que bebem, onde vão, com quem estão, a que missa vão, os restaurantes, os livros que leem, os filmes que veem, os beijos que dão, a roupa que vestem, o ordenado que recebem, o carro que compram...

- Há um bocado essa onda, não é?

- Vê-se mesmo que não te passeias pelas redes sociais.

- Bem, realmente não sou frequentador.

- Lá está! Nem tens a noção da avidez que o pessoal tem de tornar pública a sua vida. Com todos os riscos que correm, estás a ver?

- É verdade, tens razão. Mas se as redes sociais são uma realidade e são um novo meio de comunicação social, muito mais desprotegido e muito menos filtrado, temos que ajudar a moralizar a coisa.

- E como é que sugeres que se faça isso? Não é uma vontade inglória?

- Pois...pode ser, se a mentalidade dos seus utilizadores não se for alterando. Mas repara: o mal não está no ato da partilha em si, na minha opinião, claro. Está naquilo que se partilha. Estavas a enumerar, há pouco, o tipo de partilhas. Eu acho que partilhar leituras, filmes, trabalhos artísticos, momentos de amizade e fraternidade, textos com alguma qualidade, divulgação do trabalho seu e do outro, declarações de confiança e afeto...enfim, atos humanos que nos dignifiquem, acho bem.

- Achas?

- Acho porque depende de como e do quê. E sobretudo cientes do público que se cria à volta. 

- Eu sei que há pessoas que inclusivamente usam estas plataformas para se defenderem de alguém ou de algo...

- Pois...lá está. A utilidade é definida por cada um. Mas tem que haver uma educação pessoal e social para estas atividades. E saber lidar com o facto de haver sempre quem gosta e quem não gosta. Acho que o melhor é nem dar muita importância aos 'likes', por exemplo.

- Mas, sabes, eu ainda prefiro conviver ao vivo e desfrutar da minha vida em privado.

- Acho muito bem. Mas então diz-me: Porque acedes às redes sociais?

- Porque o meu pessoal só fala disso.

- Ah. É como te digo: ver coisas que merecem ser vistas. Temos que saber escolher, como com tudo na vida. Para alguns aspetos do meu trabalho e da minha pessoa, acho que pode dar jeito.

- Ainda não estou preparado para deitar nessas redes o que é meu.

- Legitimamente. Nem tens que o fazer. Aquilo até já começa a ficar com muito tráfego. Mas podes partilhar o que tens feito comigo?

- Claro que sim. Anda aqui ver...


És um universo colorido
Rosa Maria Duarte
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