segunda-feira, 5 de março de 2018

Fábula dos Peixinhos

No majestoso fundo dos oceanos, vivem vários seres numa harmonia aquosa, sombria e quase silenciosamente borbulhante.
Há em tudo um movimento lento e dançante. Pequenino, um peixe gorducho volta e meia para e olha interessado: anda à procura da companhia do peixe esguio que é seu conhecido. Eis que se aproximam e neste contraste de silhuetas, a dupla jovem faz conversa circunstancial sobre aquele dia no seu mundo marinho.
O gordinho para o magrinho:
- Ouve lá, Espadinha, a tua mãe já te permitiu barbataneares-te por aí à vontade hoje?
- Olá Bolacha. Hoje as coisas estão um bocado em sobressalto. Parece que lá no topo destas águas, o céu tem tido muitas nuvens que rebentar e agitar, com vento e frio, e os peixes maiores vão aproveitando esta confusão para nos comerem.
- Bolas, Espadinha! Não se pode confiar em certos adultos! Logo hoje que te ia sugerir uma exploração ao novo recife de corais que andam a dizer que está a perder a cor. Acho que é da poluição.
- Oh, que pena, Bolacha. Eu realmente ouvi a minha vizinha moreia falar numa embarcação humana a esse recife. São os bons, aqueles humanos que tentam ajudar a nossa casa.
- Sim, é verdade. Mas mesmo alguns desses, se te apanhassem a mim ou a ti, chamavam-nos um belo de um jantar!
- Mas ainda somos muitos pequenos! Não enchemos a barriga a ninguém. Os homens são um bocado estranhos. Gostam de nós, mas de preferência mortos no prato enfeitados com algas e outras verduras. E se regressássemos às rochas e à nossa camuflagem?
- Nademos daqui para o escuro. Depois eu faço-te umas bolhinhas especiais quando for para conversarmos um pouco mais.
- Glo, glo. Combinado! Vivamos, nós, os peixinhos, que ainda queremos apreciar mais um tempo a linda paisagem oceânica que nos rodeia.
- Glo, glo. (E afasta-se, agitando a barbatana superior em sinal de amizade pisciófila).



Somos peixes?
Rosa Maria Duarte
Óleo s/tela
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