segunda-feira, 26 de março de 2018

Porque não gostas de mim VI

Vocês não gostam de mim quando eu me porto mal. Como eu me porto sempre mal, vocês não gostam nunca de mim.
Não pensem que eu não me esforço para me portar bem. Eu digo para mim mesmo: eu hoje vou portar-me bem. Mas começo a falar e ninguém me liga. Começo a levantar a voz, ou bater com um lápis na mesa, ou a mexer nas coisas interditas...
Eu não sou invisível. E só sinto que não sou invisível quando faço disparates.
Há um ou outro adulto que me dá atenção, mas é só para se armar para outros adultos. Pelo menos é o que eu sinto. Eu sei que devo estar enganado.
Mas fazer coisas bem feitas e agradar aos outros é muito complicado. Estão sempre a pôr-me defeitos. Até os meus amigos. 
Como não vivo nem com o meu pai nem com a minha mãe, os meus amigos acham que eu sou esquisito. Que a minha própria família não gosta de mim. Se calhar é verdade...não sei bem.
Mas, mesmo que seja verdade, acho que é mais uma razão para me compensarem.
Mas isto é uma bola de neve. Os amigos que se esforçam para me compreender, perdem a paciência. Os adultos que se esforçam para me compreender, perdem a paciência comigo. Eu perco a paciência com toda a gente, porque ninguém tem paciência comigo.
Só consigo meter medo aos mais pequeninos. E irritar os outros.
Eu sei que tenho que ser mais ajudado, sobretudo por mim próprio, mas não está a ser fácil.
Eu quero gostar de mim para me ajudar. Mas quando faço de contas que sou bom, a malta ri-se e eu dou logo um biscoito a um deles. Salta-me a mão. Nem dou por mim.
Tenho que ter uma conversa muito séria comigo. Se é que consigo levar-me a sério.
Isto não acontecia se eu tivesse uma família. Provavelmente. Ou se calhar, era igual ao que sou.
Mas se estou aqui a partilhar isto com vocês (e isto estava cheio de erros...), é porque ainda há quem se preocupa comigo (será?).
Eu tenho que ser o primeiro a preocupar-me? Sei que tenho que gostar de mim. Eu devo ter talentos. Sou bom na ginástica. A reclamar... A lamentar-me...(isso não conta!).
Não é fácil ser adolescente. Não é fácil ser eu. Mas haverá mais adolescentes com problemas.
Bem, eu sei porque não gostas de mim. Só não sei se um dia poderás mudar de ideias...vou ver se consigo ajudar-te. Afinal sou apenas uma criança com alguma altura. Mas o sofrimento vai ter que me ajudar a arranjar uma zanga teimosa no trabalho e não desistir das coisas parvas que tenho que agradecer na minha vida.
Não te importas de acreditar um pouquinho em mim, se faz favor? Talvez não te arrependas...


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