- Olá. Como te tens sentido?
- Tenho-me sentido bem. Tenho-me sentido filho.
- E isso é bom, claro.
- É, é muito bom. Eu acho que é um estado de espírito importante para a vida toda. Sentirmo-nos filhos. Mesmo depois de sermos pais. Mesmo depois de os nossos pais já não estarem entre nós.
- Concordo absolutamente contigo. É sinal que temos pais que dão o seu melhor para nos amarem com consistência. Melhor, quantas vezes, que para si mesmos. Que nos protegem, q.b.. Que nos preparam para a vida. Que estejam onde estiverem, que nos amam, incondicionalmente.
- Incondicionalmente?
- Incondicionalmente. Os pais, à partida, mais experientes da vida, sabem quão difícil é gerir as emoções neste mundo tão acelerado e instável. Às vezes, o dia-a-dia castiga-nos. E os amigos são humanos, com limitações próprias. Mesmo os bons amigos. E, sem dúvida, os melhores e mais verdadeiros de todos são os nossos pais (salvo raras exceções lamentáveis!). Quantas vezes os filhos podiam desabafar com os pais e não o fazem. Eu sei que a diferença de idades às vezes não facilita. Porque se conhecem e sabem a forma de pensar que nem sempre é consonante. Mas mesmo assim, deviam de tentar, pelo menos...
- Eu também acho que deviam...
- Muitas vezes, os pais, sem querer, não sabem ouvir. Nem todos os pais conseguem ajudar... Mas eu acho que os filhos deviam procurar os pais quando precisam. De forma gradual e sensata. Eu sempre desabafei muito com os meus pais. Só o desabafar é algo reparador. E eles não me julgam nem criticam. E às vezes eles sabem que eu também falho e me precipito. E não vão divulgá-lo a toda a gente. Respeitam a minha intimidade.
- Eu devia desabafar mais com os meus pais. Também é da minha personalidade.
- Estas nossas conversas ajudam-te, não? Sabes que, inclusivamente, há pessoas que gostam de condicionar o comportamento dos filhos como forma de chegar aos pais. Geralmente por razões deselegantes. Mas se os pais forem atentos e interventivos, reforçam o apoio aos filhos como forma de os compensar das malandrices que alguma gente incauta faz a pensar que são grandes estrategas para atingirem os fins que pretendem.
- Portanto, em vez de prejudicarem os filhos ainda estão a reforçar os laços familiares.
- Pois claro. Só que sabemos que as más ações têm sempre um reverso. Nada fica impune. Mesmo aquelas que nós fazemos sem grande consciência disso.
- E apanhamos também na 'corneta' quando falamos à toa, ou mentimos ou abusamos das palavras.
- Ah pois é. Mas não sou eu, por exemplo, que vou aplicar a 'a coima' comportamental. Ou vice-versa. A 'coima' ou castigo adequado é a vida naturalmente que a aplica, acho, que trata disso, de forma regeneradora. Para ver se o mundo pula e avança. Porque as próprias palavras são formas de ação do pensamento.
- Sim, tens razão. Temos que ser mais cautelosos connosco e com os outros. Não podemos estar sempre a cometer os mesmos erros. E eu quando for pai, vou tentar dar o meu melhor. Preparar bem os meus filhos para os embates da vida. Mesmo de onde menos se espera. Vou ser o melhor amigo do mundo dos meus filhos. (Sorriem)
- Vamos ao pequeno-almoço?
- Vamos lá.
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