Normalmente as pessoas não gostam muito de mim.
Gostam mais do sol e do céu limpo. Eu não as censuro. Molho toda a gente e tudo. Sou fria. As nuvens que faço tapam o céu. A humidade estraga as casas. O mar fica enervado e galga os molhos e os portos. Os pescadores não podem ir ao mar...
Mas não fico triste. A minha chuva são lágrimas de alegria. Vejo os campos saciados e brilhantes. A terra fica mais perfumada. As ruas ficam mais lavadas. As crianças continuam a brincar porque gostam de mim. E a neve vem visitar-me muitas vezes nas serras. Diz lá que não faço espetáculos naturais lindíssimos?
Que tens que usar agasalhos e chapéus de chuva? Tem paciência. Constipas-te com mais facilidade? Tens que te recolher. Mas podes ser daquele/as que gostam de cantar à chuva... Não é bom cantar à chuva? No chuveiro, por exemplo? E tomar banho na praia ou num rio num dia de chuva? Fantástico, não? Sei que nem toda a gente aprecia. Eu sei que é uma chatice sair da água e não poder secar o corpo sem um toldo de jeito que proteja.
Mas eu sou a fonte de tudo. Sou a origem da vida. Sou grande parte de ti. Sou construtora das nuvens. Família do gelo e da neve. Sou transformista. Engravido a terra. Sou lar. Sou uma deusa para as gentes das terras secas. O ouro branco. Inspiração de tantos fados. E gosto de chover por tudo e por nada. Tenho muito espaço no mundo para chover. Às vezes zango-me um pouco com o vosso comportamento, mas logo me comovo e desato a chover. Às vezes descontroladamente. Sou muito emotiva. E gosto a sério de vocês. Não consigo evitá-lo. Olha, lá estou eu a chorar agora. Estás a ver-me? Estou agora à tua janela a cumprimentar-te.
Cada vez te faço mais falta, não é? Então sorri-me de vez em quando.
Podemos ser amigos forever? Não te pões a fugir para o Brasil quando chovo aí ao pé de ti? Eu também gosto muito do Brasil. Volta e meia estou lá. Às vezes até prego aquela partida de aparecer no Carnaval do Rio de Janeiro. Sou um bocado malandreca!
Prometes então que gostas sempre de mim? Que não praguejas quando o chapéu-de-chuva se avariar? Quando chovo de repente? Quando te beijo a boca? Sabes que sou água de chuva milenar. Não sou tratada, mas vou tratando de ser livre, autêntica e muito mineral. Digamos que sou uma atleta que nunca se cansa de chover e de correr mundo.
A verdade é que gosto muito de ser chuva. Não faço diferenças de calendário. Chovo para qualquer lugar e para qualquer povo. Queres agora uma gotinha para confecionares bem a nossa amizade?
Se és do campo, sei que gostas muito de mim. Se és poeta, gostarás sempre de mim em qualquer parte do mundo.
Toma lá uma monção de beijinhos. É demais? Sou uma exagerada.
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