segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Autobiografia (página 3)






Os meus pais conheceram-se na alfaiataria «Alecrim» na Ajuda, onde trabalharam, lugar que já não existe há muito anos.
A minha mãe nessa altura tinha a irmã mais nova solteira, a Isabel. E o meu pai, o seu irmão mais novo, o meu tio Cristóvão. Pois...foi isso. Deu em casamento. Foram viver os quatro para uma casa grande (a mesma onde eu nasci), mas os meus tios cedo decidiram ter a sua própria casa.
Os meus pais viveram desde sempre na mesma casa. Durante 56 anos. Tiveram lá seis filhos.
Quando os meus pais decidiram casar, a minha mãe passou a doméstica e o meu pai aceitou ir para o mar para ganhar mais dinheiro. Os meus avós maternos viviam perto dos meus pais, o que facilitou algumas ajudas. A minha tia Maria, a irmã mais velha da minha mãe, também vivia com a família na rua de Alcântara. E ainda tínhamos (e temos) uns primos a viver na rua da Costa, no largo de Alcântara. Muita gente da Beira Alta, concretamente da aldeia da Vide, se juntou no bairro de Alcântara. E ninguém ficou sem trabalho. Duro e mal pago, mas dava para comer.
A minha tia Conceição entretanto seguiu a vida religiosa. Ora estava a fazer serviço no Entroncamento, ora em Fátima, ora em Benavente, ora em Sesimbra, em Aveiro, em Santarém...as freiras da congregação da Luiza Andaluz não podiam ficar sempre no mesmo convento e a ajudar a mesma comunidade.
A minha mãe tinha, pois, uma vida de maior clausura do propriamente a minha tia freira. Ia à missa ao domingo, às compras e pouco mais.
A minha mãe fez gosto que seguíssemos a catequese. Nunca fomos escuteiros, mas seguimos o protocolo religioso, até à profissão de fé. Foi muito importante para nós o convívio com os jovens da igreja. Foi uma experiência de desenvolvimento de competências, aprender a falar de assuntos sérios com interesse variado. Fizemos retiros, convívios, programas culturais...
Desde menina que a figura da Nossa Senhora me causava algum fascínio. Como esta que ilustra esta página e que se encontrava no quarto dos meus pais. Ficava horas a olhar para ela...
Antes do 25 de abril, a minha vivência religiosa resumia-se aos momentos da catequese com uma catequista freira que tocava órgão (e que me chamava a atenção por causa das pastilhas elásticas), aos ensaios do coro e à missa. Só depois da revolução dos cravos é que passámos a ter a nossa celebração de missa, na sala de cima do grupo de jovens, que era ministrada pelo padre Ernesto, que era mais jovem que o padre Alfredo, ritual animado com violas, partilha da palavra, comunhão nas mãos, círculo de mãos dadas quando se orava o padre-nosso...enfim, rebeldias da altura que, depois, se generalizaram a todos os fiéis e passaram para a missa principal das 11h de domingo. Amizades que fiz e se dispersaram quando comecei a trabalhar e a estudar ao mesmo tempo.
Até aos meus quinze anos, os nossos domingos à tarde eram, habitualmente, passados em família. Nos primeiros anos, íamos até ao Monsanto piquenicar e passávamos lá a tarde no parque infantil. Sempre que possível, íamos até às piscinas. Uns anos mais tarde, o passeio era só depois do almoço, até à Tapada da Ajuda. Mas como o programa passou a ser igual todos os domingos, começámos a aborrecer-nos e a tentar conquistar direitos, a fazermos os nossos próprios programas, ainda que isso implicasse alguma zanga familiar...




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