quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Autobiografia (página 5)



 Os natais em casa dos meus pais eram sempre animados.
O meu pai gostava de um pinheiro natural grande a tocar no teto. Os enfeites eram quase que invariavelmente os mesmos, embora o meu pai gostasse de comprar sempre algo de novo para sobressair. A bola que eu mais gostava era uma bola grande quebrável cor-de-rosa que tinha um anjinho de um lado. Tanto observava aquela bola que o meu pai me advertia. Um dia partiu-se.
Tudo o que era cor-de-rosa eu dizia que era meu, só por causa da cor.
O meu pai gostava de ver a casa cheia. Quando o meu pai estava em viagem, o natal era triste. Mas quando ele estava em casa, convidava-se muita gente. A casa era uma animação.
A casa dos meus mais era uma casa de construção antiga (ainda é, mas fizeram lá obras). Tetos altos, grandes divisões, corredor comprido, despensa, pia da cozinha, três entradas para a escada da rua.
A televisão estava sempre a dar programas infantis e juvenis. Durante o ano era praticamente só ao sábado à tarde (o meu pai, aos sábados, dava-nos dinheiro para irmos comprar camarão e caranguejo cozido no pátio das escadinhas das fontainhas a uns velhotes que nunca na vida tinham comido carne). Aos sábados era o Bonanza, a Casa na Pradaria, o cartaz TV, os top+... Mas no natal, era quase toda a semana.
O meu irmão mais velho era o pai natal. Nós, os mais novos, fazíamos por estar acordados para vermos o pai natal. Então o meu irmão Zé dizia que enquanto não adormecêssemos, não havia prendas. Com muito custo lá adormecíamos. Ao outro dia, apareciam as prendas junto aos sapatos que tínhamos posto na chaminé, com muitos balões e guloseimas. Havia sempre qualquer coisa que tínhamos pedido ao pai natal e não estava lá.
Ao outro dia, era casa cheia. Muitos familiares à volta da mesa, o meu pai muito bem disposto e a minha mãe muito atarefada.
No final do dia, sentávamo-nos junto do presépio e da árvore de natal, só com as luzinhas acesas, a conversar. E pensávamos no menino Jesus com aqueles animais amigos dele à volta. E desejávamos ter muito animais nossos amigos.
Bem pedíamos à nossa mãe animais lá em casa, mas ela, coitada, nem dava conta dos animaizinhos humanos que andavam todo o santo dia de volta dela com ideias, cada uma mais estrambólica que a anterior!

Sem comentários:

Enviar um comentário