Logo a seguir ao 25 de abril, o pluralismo marcou pontos. Passámos a ter direito ao vasto mundo das ideias, da literatura, das medicinas alternativas, das novas filosofias, à intervenção social...
Quando eu ia apanhar o elétrico para a secção da escola (já não comercial) Ferreira Borges, na rua da Junqueira, fui-me apercebendo que a montra do Celeiro estava repleta de pequenos livros sobre alimentação, práticas de ioga, acupuntura, homeopatia, budismo, meditação...
Andei a namorá-los e decidi-me pelas 10 lições de Ioga, que ainda tenho. Estava então na puberdade.
Estendia um cobertor no chão da sala de jantar, e a pouco e pouco, seguindo as instruções do livro, comecei a experimentar as diferentes asanas, com especial interesse pela posição lótus e pela meditação. Ao contrário do que eu pensava, as asanas não eram nada fáceis de fazer, mas cedo compreendi que devia de ir com calma e permitir que o corpo se aliasse à mente para cada movimento. Ainda hoje pratico ioga, embora sempre adaptado à rotina e às condições físicas e psicológicas do momento.
O meu irmão mais velho também praticava karaté e ele às vezes falava lá em casa sobre isso. Também aprendi com ele.
Em relação à alimentação, não pude alterar muito o meu regime alimentar. Bebia mais água, isso sim. Quando comia fora de casa, procurava não comer carne. Em casa, naturalmente, a minha mãe fazia muita sopa, cozia muitos legumes, fritava pouco e cozinhava mais peixe do que carne. Muitas vezes era eu que ia à praça comprar peixe. A minha mãe dava-me umas dicas. Mas eu gostava de comprar peixe para cozer ou para assar. Os meus pais não tinham muito o hábito de grelhar, nem tinham um grelhador apropriado.
Antes de ir para a escola-sede da Ferreira Borges, mandaram-me, no 2º ano do ciclo, para a Paula Vicente, na zona do Restelo. Ao princípio fiquei aborrecida. Mas com o decorrer do ano letivo, constatei que foi o ano até ali mais simpático em termos de colegas, de professores, até de matérias. Escrevi, com três colegas, uma composição sobre miosótis. Gostei muito. Foi o ano em que recebi no meu dia de anos montes de prendas, que ainda tenho cá em casa. Nesse dia, depois de almoço, na aula de Educação Visual, o professor mandou-me entrar primeiro. Já tinha o meu estirador cheio de prendas. Fiquei super envergonhada, mas super feliz. No final desse ano, cada um de nós seguiu o seu caminho. Foi mesmo doloroso!
A seguir, na antiga Ferreira Borges do Alto de Santo Amaro também fiz lá amizades muito giras. As Manuelas da linha de Cascais, a Carmo que foi ao meu casamento. A Clarinda, a Fátima. O professor açoriano de Português e Literatura que me inspirou para a área das letras, as caminhadas de Alcântara ao Alto de Santo Amaro a comermos cerejas e a fazermos concursos de sopros de caroços...
Comprei os meus livros de pinturas murais e de palavras de ordem. Participei em comícios contra a energia nuclear. Nos primeiros primeiros de maio.
Quando acabei o décimo primeiro ano tive de ir trabalhar. Tinha muitos irmãos. O décimo segundo fi-lo à noite na escola Belém-Algés. Andava então a vender enciclopédias à porta das pessoas. Não tinha jeito nenhum.
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